terça-feira

Só se morre afogado por congestão quando os nadadores-salvadores estão ocupados a digerir o seu próprio almoço!

Este é um tema polémico. Já tive várias discussões sobre o assunto. A paragem de digestão é um mito do nosso país. Os Japoneses têm um mito ao contrário, ou seja, não tomam banho de estômago vazio pois têm medo de morrer...

Para quem não acredita ainda, verifique o texto abaixo, publicado no PortugalDiário em 16/08/2003:

"Pode ir-se nadar logo a seguir ao almoço? A maioria dos portugueses hesitaria antes de responder a esta pergunta. No entanto, alguns médicos não têm dúvidas. Uma pessoa saudável pode ir brincar com as ondas cinco minutos depois de almoçar ou jantar. Chapinar no mar apresenta vários perigos, mas nadar de barriga cheia não é um deles.
«A digestão não exige que se esteja paradinho a seguir a uma refeição. Apesar deste processo consumir energia, uma pessoa saudável tem perfeita capacidade para nadar com o estômago cheio», diz o médico e investigador José Pedro Cansado Carvalho.
A paragem da digestão, também chamada popularmente «congestão», segundo este médico, «é um mito popular português». José Carvalho pesquisou a literatura médica internacional e não encontrou uma única referência ao conceito de paragem de digestão.

«Por vezes, sentimo-nos mal depois de comer, mas a digestão não pára»
E que dizem os nadadores salvadores sobre a congestão?
Quando o PortugalDiário confrontou o presidente da Associação Nacional de Salvamento Aquático, Fernando Martinho, com a pergunta, a primeira reacção foi a hesitação. Depois de alguma reflexão, Fernando Martinho diz que uma pessoa saudável deve esperar duas horas depois de uma refeição normal antes de entrar na água, apesar de concordar com a posição de José Carvalho que «não se morre afogado de congestão, mas de choque térmico».

Então porque é que muitas pessoas insistem na pausa depois do almoço mesmo se os especialistas em afogamentos sabem que não se morre de congestão? «Uma das razões para a confusão é que quando uma pessoa desmaia no mar, engole água e vomita tudo o que tem no estômago. É fácil associar -erradamente- o regurgitar à morte», explica José Carvalho.

Mas apesar deste médico achar importante pôr tudo em pratos limpos relativamente à congestão, não deixa de salientar que as pessoas têm de ser razoáveis: «Não faz sentido uma pessoa enfartar-se de feijoada e depois ir a correr para a água. É natural que se sinta mal. Da mesma forma, que um atleta se sentiria mal se resolvesse correr uma maratona depois duma almoçarada».

José Carvalho remata, com farpas para os salvadores: «As pessoas só morrem afogadas por congestão quando os nadadores salvadores não vão salvá-las porque eles próprios acham que têm de digerir o seu almoço na areia».
O gastroentrologista António Sarmento partilha da mesma opinião: «Morre-se no mar fundamentalmente por três razões: hipotermia, exaustão e o que se chama morte súbita».

A água do mar em Portugal é sempre fria. A hipotermia é a razão principal dos afogamentos, segundo António Sarmento. «O choque térmico pode provocar uma reacção ao nível do sistema nervoso que por sua vez pode provocar uma paragem cardíaca», explica ao PortugalDiário.
As paragens cardíacas na água podem ter outras causas para além da hipotermia: «um soco pode provocar exactamente o mesmo efeito», exemplifica António Sarmento.

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